Durante um mês tivemos uma mesa de trabalho embaixo deste pinheiro da foto, no programa de residência rural Ka’a. Nesse período desenvolvemos práticas cerâmicas que dialogaram com ele, o pinheiro, ou para além disso, numa espécie de mutualismo ou associação, nossas peças nele se envolveram, imiscuiram-se. Hoje sabemos que ele possui um dos genomas mais antigos entre as espécies botânicas, uma espécie que acompanha a humanidade e até por isso é umas das mais exploradas e utilizadas por nós.
O trabalho propõe um deslocamento: suspender a terra que normalmente envolve as raízes das árvores e posicioná-la sobre os galhos. Depois de secas ao Sol, alteramos a posição de cada peça, explorando ideias de levitação e flutuação – sempre sem romper o elo da peça criado com a árvore. A cerâmica que tradicionalmente data a presença do homem na Terra funciona agora como medida para a passagem do tempo no crescimento desta árvore. As peças podem ser vistas também como bons espíritos, que acompanham a contínua elevação deste maravilhoso ser vegetal rumo a sua verticalidade infinita. Se seu fluxo de vida não fosse constantemente interrompido, os pinheiros poderiam alcançar até 60 metros de altitude e viver por mais de 5 mil anos.
KA’A RURAL RESIDENCY, Porto Alegre, março/abril de 2019