Ao longo do estreito de Breves, na região de confluência das águas do Amazonas com o rio Pará, crianças ribeirinhas, descendentes de povos indígenas do arquipélago do Marajó, surgem em canoas vindas das margens do rio para recolherem doações lançadas pelos passageiros das embarcações, que descem o rio em direção a Belém. Seria isso outra face da mendicância brasileira transparente na cultura do caboclo do norte do país? Outro retrato da carência das famílias brasileiras que dependem do vai e vem das embarcações? Ou seria a repetição da atitude e do pensamento do antigo colonizador agora substituído pela figura do turista ou do morador dos grandes centros urbanos? Aquele antigo olhar europeu que só enxerga a falta e não vê as vantagens de uma vida mais integrada ao ambiente?
E o que se atira às águas? Objetos e coisas úteis? Ou um tsunami de produtos plásticos, descartáveis e de comida industrializada? E quais as consequências desse jogo, dessa pescaria de objetos sem valor?
Existem relatos de que essa recente tradição de se lançar brinquedos e produtos no rio está ancorada em tradição mais antiga, do Brasil Colônia, quando os barcos atiravam às águas uma oferenda para as divindades do fundo do rio para que estas lhes permitissem uma viagem segura.
Pescadores de Ilusão é um projeto que tem por objetivo documentar, em vídeo e fotografia, o cotidiano das meninas e meninos canoeiros da região do Estreito de Breves. Através da organização de uma expedição de três semanas, acompanhada de pensadores e antropólogos indígenas.
O projeto prevê a documentação em duas perspectivas, a primeira aborda o cotidiano das crianças ribeirinhas do Amazonas, registrando a vida na comunidade, a alimentação do dia-a-dia e o destino dos objetos/produtos coletados nas águas. A segunda perspectiva aborda os viajantes e suas motivações para atirarem, ao rio, produtos e objetos.