










parafina em papel algodão com vela para acender, dimensão: 24x32cm
Gabriela Motta: Queria que vocês comentassem sobre as pinturas de acender [a série Impermanência]? Gostaria de ver esse trabalho. Como ele é feito e quais ideias estão envolvidas?
Denis Rodriguez: Começou com o exercício de usar a vela e perceber o potencial desse material para pintar. Observar como a cera, a parafina reagia. E em um dado momento quando estávamos com vários papéis sobre a mesa e várias velas acesas, decidimos incluir a própria vela no trabalho.
G: Então o suporte é o papel?
Leonardo Remor: É. Um papel bem grosso, de alta gramatura, porque nesse exercício de ir pingando a vela em diferentes papéis, fomos descobrindo que conforme a acumulação da cera e o calor, o papel queimava, às vezes a gente achava interessante esse resultado, mas muitas vezes não. Ou quando o papel secava, ele ficava torto. Ou a cera se rompia quando a gente tentava deixar o papel plano. Também a maneira como você segura a vela influencia na pintura. Porque certa maneira de segurar pode produzir fuligem. Em alguns estudos incluímos essa fuligem. O trabalho começou com as velas que encontramos na Estação Cultural, que eram velas brancas. Daí deu vontade de desenhar e pintar e fomos atrás de velas coloridas. Encontramos várias tonalidades de azul. Mas daí isso… chega um momento em que não é mais possível segurar a vela, porque ela começa a queimar a tua mão. E começaram a sobrar vários toquinhos de vela sobre a mesa. Com o passar dos dias, a gente começou a ter potes de toquinhos. Diante desses potes de toquinhos resolvemos que a pintura deveria ficar acesa. Assim quando o toquinho de uma pintura termina, quando a chama consome toda a vela da pintura, basta apenas inserir um novo toquinho. Deixamos 1 pote de toquinhos na galeria. Então para esse trabalho, deixamos instruções de que cada vez que um visitante estiver interessado nas pinturas, alguém do staff da galeria deve acender a pintura.
G: Pera aí… só que a pintura está na vertical, né? E o toquinho gruda? Como faz? A pintura está mole, derretida?
L: Não, ela está totalmente seca.
G: Então tu esquentas a bunda do toquinho?
D: Isso, exatamente.
G: E a cera da pintura funciona como a base para esse novo pavio?
L: É. E como o papel têm várias camadas de cera, esse novo toquinho ao derreter não queima mais o papel.
D: Existe uma parte da pintura que é móvel. O desenho muda, ele está em movimento.
G: Mas então o trabalho pinga no chão?
RR: Pinga!
G: Fiquei louca para ver isso. De alguma forma, isso que seria o rastro da pintura, o toco da vela, vocês conseguem fazer com que entre no próprio trabalho.
Os artistas e curadores Elaine Tedesco, Gabriela Motta, Denise Adams e Josué Mattos dialogaram com o duo RodriguezRemor sobre os trabalhos da exposição Fagulha Perdida em Meio ao Fogo, em conversas privadas na plataforma Zoom com a duração de 108 minutos – número da representação divina para muitas culturas orientais. Essas conversas aconteceram durante o primeiro mês da exposição, apresentada na OÁ Galeria, entre 8 de abril e 8 de junho de 2021.